Preços Mundiais dos Produtos Florestais Continuam Trajetória de Queda
- Marcio Funchal
- 27 de set. de 2022
- 4 min de leitura
Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Agosto de 2022.

Nestes quase 25 anos de experiência no mercado de consultoria empresarial, tenho preparado uma grande quantidade de informações e análises a respeito de mercados e produtos dos mais diversos setores.
No ano passado elaborei uma análise rápida de preços para os principais grupos de produtos industrializados do setor de base florestal. Um resumo de tal estudo foi publicado na coluna Estratégia e Gestão da Revista O Papel (edição de Abril de 2021). Os resultados das análises foram contundentes: os preços médios internacionais dos produtos deste setor estavam em queda. “Mas como assim”, alardearam muitos dos leitores? “Os preços atuais estão crescendo no meu setor”, responderam outros.
Apesar das indagações, os números de longo prazo, e padronizados para “o conjunto das cadeias produtivas” do setor de base florestal, comprovam que sim: os preços médios internacionais apontam para trajetória de redução nos últimos anos. Mas e agora, onde os mercados mundiais passam por estrangulamento de logística global e as variáveis de custos e demanda estão impondo aumentos expressivos de valores em diversas cadeias produtivas, já podemos concluir que temos atualmente recuperação de crescimento de preços?
A resposta é sim e não. Fiz uma atualização das análises incorporando o uso das mesmas fontes de dados de base, mas incluindo agora dados setoriais para estimar os hiatos da falta de números de curto prazo a partir de 2020, os quais refletem o crescimento recente de preços pós pandemia. Importante destacar que todos as análises se basearam em preços NOMINAIS da época, ou seja, sem a correção de inflação.
Como resumo, apesar de termos no curto prazo um crescimento de preços em vários produtos, ainda assim os níveis atuais de preços são muito inferiores aos verificados há alguns anos.
O comportamento do mercado de Painéis de Madeira está demonstrado nas Figuras 1 e 2. No caso dos painéis de Madeira Sólida (chapas de compensado, chapa dura, EGP e outros tipos), a produção cresceu mais de 30% nos últimos anos, mas o preço atual é aproximadamente 13% menor, considerando os patamares de 2010. O pico de preços desta classe de produto foi em 2014. De lá para cá, a queda nominal de preços médios foi de cerca de 20% (quase 3% ao ano).
Já nos Painéis de Fibra de Madeira (MDF, MDP, HDF e outros), o aumento da produção desde o ano 2010 foi pouco maior do que 35%, embora os preços tenham caído 20%. Mais uma vez 2014 representa o pico de preços históricos. Desde então, os preços médios caem numa média de quase 4% ao ano (ou cerca de 26% no acumulado do período).

O mercado de Cavaco e outras Partículas de Madeira está representado na Figura 3. Desde o ano 2010, a produção mundial cresceu apenas 7%. Já os preços médios internacionais mostram um rally interessante. O pico ocorreu em 2011, mas seguido de uma forte queda até 2017. Desde então, motivado principalmente pelas políticas europeias impostas aos seus países membros para a transição energética (descarbonização da economia), os preços vêm apresentando forte crescimento. Conforme os dados, é o único grupo de produtos do setor de base florestal, dentre os avaliados, cujos preços correntes estão no mesmo patamar dos preços de 2010.
A Figura 4 aborda o mercado de Pellets de Madeira. Os dados consolidados em termos mundiais estão disponíveis apenas a partir de 2012. Desde então, a produção cresceu mais do que 1,5x. Por outro lado, os preços médios mundiais mostraram uma flutuação histórica (com pico em 2013), alcançando hoje uma retração da ordem de 11% em relação ao início da série.

Com base na Figura 5, é possível ver que a produção mundial de Madeira Serrada (tábuas, vigas, mourões, pranchas, pisos, componentes de móveis, blocks, blanks e outros produtos) teve aumento de 30% no período destacado. Este cenário se inverte quando se olha para os preços médios internacionais, que estão atualmente quase 10% abaixo dos valores praticados em 2010. Esta classe de produtos teve teu auge de preços em 2014.
Já a Figura 6 mostra que a produção mundial de Celulose (considerando todos os tipos de fibras) cresceu 10% desde 2010, enquanto os preços médios mundiais retraíram mais de 30% no mesmo período. O pico de preços da celulose ocorreu em 2011. Desde então, a produção mundial cresce, na média, 0,8% ao ano, enquanto os preços médios internacionais caem anualmente em torno de 3,7%.

O comportamento do mercado mundial de Papel e Papelão está demonstrado na Figura 7. Considerando o horizonte de análise, estamos hoje praticamente no mesmo patamar de produção de 2010. Já os preços atuais são 25% menores do que os valores registrados no início da série. O pico de preços médios mundiais se deu em 2011. De lá para cá, os preços recuam a uma taxa de quase 2,5%a.a.
No mercado de Embalagens de Papel e Papelão (ver Figura 8), a produção mundial atual é quase 30% maior do que em 2010. Por outro lado, os preços médios internacionais caíram cerca de 20% no mesmo período. Levando em conta que o pico de preços se deu em 2011, estes vêm caindo 3% a.a. desde então.

Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Agosto de 2022.
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